quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Toca Raul...


Dando uma daquelas voltas pelo site da Mtv, me deparei com um texto, que a principio parecia ser só mais uma noticia. Porém ao lê-lo, percebi que o buraco era mais em baixo. Até me passou pela cabeça fazer uma homenagem. Afinal, o Raulzito merece. Mas sei também que não a faria melhor. Por isso, como diria o professor, copiei ibisis litteris...

“A gente não nasceu há dez mil anos atrás. Se tivéssemos nascido, talvez teríamos sido malucos belezas ou simples caretas. Talvez tivéssemos visto aquele Phono 73, onde ele desenhou o símbolo na barriga daquilo que viria a ser a chave da tal Sociedade Alternativa. E talvez teríamos até acreditado que John Lennon realmente se interessou pela comunidade, supostamente reconhecida num seminário internacional de sociedades secretas. Talvez teríamos visto, apenas quatro meses antes da partida, o barbudo Raul cantando, pela primeira e única vez, com o barbudo Paulo Coelho, no palco. E a música, ironicamente ou propositalmente, era o hino que já causava arrepios no letrista melhor amigo de Seixas: Sociedade Alternativa.

Raul sempre seguiu sua própria religião e modo de vida. "Já fui Pantera, já fui hippie, beatnik, tinha o símbolo da paz pendurado no pescoço. Porque nego disse a mim que era o caminho da salvação. Já fui católico, budista, protestante, tenho livros na estante, todos tem explicação" (É Fim de Mês). Ele falava o que pensava, fazia o que queria, e sabia que os assuntos mais profundos podem ser entendidos na simplicidade de sua explicação.



Foi assim que o romântico careta, participante do fã-clube do Elvis, casado três vezes e seguidor de seus próprios princípios conquistou o espaço que, sem humildade, já sonhava. O magrelo barbudo já apanhou por ser impostor dele mesmo, mas antes uma "metamorfose ambulante, do que ter a velha opinião formada sobre tudo". Foi assim que ele fez diferença. Com diversas parcerias, desde o amigo Jerry Adriani ao conterrâneo Marcelo Nova, já foi tachado de brega, criticado por uns, adorado por outros. Com o último, ele produziu seu também último trabalho, "A Panela do Diabo", lançado após sua morte.



Teríamos visto ele comendo lixo com um palhaço em Nova York, pelo simples fato de o artista ter oferecido (segundo suas próprias histórias fantásticas). A gente teria acreditado no encontro mágico entre ele e Paulo Coelho: correndo atrás de um disco voador, ao invés do (real) careta encontro na redação de uma revista alternativa e decadente. Raul tinha um forte inimigo: sempre foi a mosca na sopa no dicionário da censura, mas driblou até onde pode e como ninguém as próprias letras. Palavras como "gente", "povo", "universidade", "aranha" já não podiam ser mais usadas. "Eu fui o precursor da aranha, depois de Deus".



"Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará a ouvir o som dos meus passos" (Canto para Minha Morte). Mas não é bem assim. Os passos de Raul, nunca seguidos com o mesmo foco, permanecem na memória brasileira, que só valoriza seus ídolos depois que eles se vão. O bom moço que passou em diversas faculdades e teve a cara de chegar para a própria mãe e dizer o quanto "é fácil ser medíocre" se foi, há 20 anos.

Foi pancreatite, sozinho, em seu quarto de hotel. Mas a gente sabe que ele não se acabou. Foi uma escolha: "faz o que tu queres, pois é tudo da lei". Ele escolheu e sofreu as consequências disso, mas sabia que o fim estava chegando. Ele morreu para deixar um legado sem igual na música brasileira, com seu rock misturado com baião e maxixe. Quem diria que um dos maiores roqueiros do país viria da terra do axé?! "Hoje em dia, eu não falo muito, eu penso". Isso foi o que ele disse, já gordo, em sua última entrevista antes de partir dessa.

"A morte, surda, caminha ao meu lado. E eu não sei em que esquina ela vai me beijar" (Canto para Minha Morte). Mas não importa. A gente sabe que "todo homem e toda mulher é uma estrela". Obrigado Raul!”

*Quem escreveu: Luiz Fernando Tavares, 19 anos, e Carol Tavares, 23, são irmãos e fãs de um trabalho que morreu antes que eles aprendessem a falar a palavra "aranha", mas permanece vivo na memória.

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